segunda-feira, 14 de abril de 2008

CONTOS DE ASSOMBRAÇÃO NO SERTÃO DAS CARRANCAS

A MULHER LOIRA



Certa vez, Maria de Lourdes Garcia entrou na casa da fazenda Leme. Passando em frente a sala de jantar, reparou que na mesa enorme de madeira encontrava-se uma mulher loira escrevendo em um pedaço de papel. Como a mulher estava muito concentrada, Maria passou por ela sem dizer nada.
Chegando na cozinha onde estava muitas pessoas tomando café perguntou:
___Quem é aquela mulher loira que está na sala de jantar?
O pessoal apenas respondeu:
___Que mulher loira?
___Aquela que está escrevendo na mesa da sala de jantar! Respondeu Maria.
Haroldo, Silvia (proprietários da fazenda) e Adão (filho dos proprietários) que estavam na cozinha foram verificar quem era a pessoa que Maria estava falando.
Quando chegaram na sala de jantar, ficaram surpresos, pois na mesma não se encontrava ninguém. Olharam de fora da casa, mas não tinha nenhum sinal da misteriosa mulher loira.

LENDAS DE ASSOMBRAÇÕES DO SERTÃO DAS CARRANCAS

Como diz o grande escritor de contos de assombração Gilberto Freyre:
___As assombrações andam pelo Brasil inteiro, tendo o mesmo caso em regiões diferentes...
Assombrações como: bater na porta, cair pedra dentro de casa, escutar barulho de corrente ou de pessoas andando, objetos que se mechem são comuns em vários lugares do Brasil.
Os casos contados abaixo são todos acontecidos em Carrancas - MG são casos que permaneceram na memória de seus habitantes e foram passados de geração para geração.




A PORTEIRA DO ÓLEO



Entre as terras do Valinho e a Jabiraca, região leste do município de Carrancas, existe uma porteira de madeira grande e pesada que dizem ser mal assombrada. Ela está do lado de uma grande e antiga árvore de óleo, daí o nome porteira do óleo.
Alguns moradores da região dizem ter visto uma forte luz na porteira, parecendo uma bola de fogo, outros dizem que ela bate sozinha.





O MENINO MISTERIOSO



O senhor Haroldo Teixeira de Andrade tinha saído cedo da fazenda Leme para campear uma vaca que estava desaparecida. Algum tempo depois voltou para casa sem pista alguma do animal.
Pessoas que estavam na casa viram ele chagando pela janela com um menino mulato na garupa de seu cavalo.
Quando entrou em casa, perguntaram-lhe quem era o menino que veio engarupado com ele.


Surpreso com a pergunta, respondeu que não tinha trazido ninguém na garupa de seu cavalo. Foi para cozinha e tomou um café. Logo depois saindo na porta principal da casa, avistou um menino mulato em cima do muro de pedra do curral. Gritou com ele para descer, pois poderia cair ou derrubar alguma pedra. O menino só ria e gargalhava para ele. Irritado com o deboche, voltou para dentro de casa para pegar um reio que estava atrás da porta da sala. Quando saiu da casa com o reio na mão, o menino mulato tinha desaparecido misteriosamente.





O CANTO DO CARRO DE BOI



A muitos anos atrás, quando ainda levava os caixões no carro de boi para serem enterrados nas capelas, existia dois irmãos fazendeiros que moravam no sertão das Carrancas.
Uma briga por causa da partilha da herança levou os dois a ficarem inimigos para o resto da vida. Quando um dos irmãos morreu, preparam o carro de boi para levar o caixão até o cemitério na capela do Espírito Santo.
A estrada que levava para o cemitério passava dentro da fazenda do irmão inimigo, dentro do curral bem perto da casa de morada.
O cortejo saiu da fazenda do morto, muitos familiares seguiram a pé junto do carro que transportava o defunto, menos a família do irmão inimigo.
O carro de boi era muito grande e precisava de muito peso para cantar (som característico emitido pelo eixo do carro).
As duas fazendas ficavam longe uma da outra, e o irmão inimigo ficou esperando com sua família na janela de sua casa o carro passar com o morto.
O cortejo já vinha pela estrada no maior silêncio do mundo, pois para o carro de boi cantar precisava de muito peso, pois o caixão com o corpo eram muito leve para fazer o carro cantar.
O irmão do morto estava ansioso para passar logo o enterro em frente de sua casa, não iria seguir junto com os parentes o enterro, porque até depois de morto o irmão ainda o odiava.
Foi então que apareceu o carro no alto do morro, muitas pessoas acompanhavam em silêncio. O irmão inimigo já tinha deixado as porteiras do curral abertas para passarem logo por sua residência.
Todos que estavam na casa se dirigiram para as janelas inclusive o irmão inimigo, ficou em silêncio vendo a multidão se aproximar com o caixão.

Quando o carro de boi entrou no curral da fazenda, começou a cantar, parecia que estava carregando uma tonelada, as pessoas que acompanhavam o enterro ficaram assustadas, pois o carro ainda não tinha cantado nenhuma vez no percurso. O carro de boi cantou tão alto que o eco vinha de longe. Quando o carro saiu do curral da fazenda ficou em silêncio, e não mais cantou até chegar ao cemitério.

O ROTEIRO DE PADRE LOURENÇO DE TOLEDO TAQUES

No Sertão das Carrancas vivia um padre que era muito estimado pelo povo. Pois era muito bondoso, ajudava os pobres e vivia uma vida simples sem regalias e bens materiais.
Já estava idoso e tinha muitos anos que era vigário naquela freguesia. Estava cansado e fraco, pois suas ovelhas de Cristo tomavam todo o seu tempo para fazer confissões.
Todos os dias acordava e ia direto para a igreja matriz para escutar as confissões das beatas. Algumas iam todos os dias para se confessarem e pedir-lhe a absolvição dos pecados cometidos. Ao terminar todas as confissões as mulheres sentiam-se mais aliviadas, e o padre Toledo Taques cansado de tantas confissões.
Então o padre em certa noite teve a idéia de dividir o trabalho das confissões das mulheres. Organizou um roteiro que seria lido na missa do próximo domingo na matriz da freguesia.
No domingo marcado, quando terminou a missa, o padre pediu um minuto da atenção dos fiéis da paróquia, pois iria ler o roteiro das confissões das mulheres. E falou assim:
___Minhas queridas devotas de Cristo! Estou velho e cansado, tenho trabalhado muito ultimamente com as confissões. Como o número de mulheres pecadoras cresceu muito nesses tempos para cá, resolvi fazer um roteiro para agilizar o serviço do confessionário e diminuir o trabalho que eu estava tendo com o grande número de confissões. A partir dessa semana as confissões serão assim: na segunda-feira confessarei as maldizentes. Na terça-feira as ladras. Na quarta-feira as hipócritas. Na quinta-feira as bêbadas e infiéis aos maridos. Na sexta-feira as feiticeiras e mentirosas. No sábado as preguiçosas e no domingo as comilonas e outros tipos de pecados.
Desse dia por diante nenhuma daquelas santas beatas voltou a confessar naquela freguesia, e o padre Lourenço de Toledo Taques viveu ainda muitos anos na santa paz do Senhor.

LENDA DOS TATUS BRANCOS

Quando os bandeirantes chegavam na serra da Mantiqueira vindos de São Paulo, já ficavam preocupados com os tatus brancos que atacavam no sertão. Os tatus eram índios que moravam na região e se abrigavam em muitas cavernas secas em suas serras. Eram canibais e atacavam durante a noite os acampamentos dos exploradores. Enxergavam melhor que uma coruja na escuridão, conheciam as trilhas e todas as noites iam atrás de suas presas. Muitos bandeirantes que desapareceram nessa época, provavelmente foram mais vítimas dos temíveis tatus.
Os tatus brancos moravam na mesma região que os índios Cataguás (sul de Minas Gerais). Receberam esse apelido porque se abrigavam em cavernas, e pintavam o corpo com argila branca.
Foi então que organizaram uma bandeira em São Paulo para atacarem os tatus e destruílos, pois o medo dos bandeirantes no sertão era constante.
Foram convocados os melhores homens, e marcharam rumo ao sertão para cumprir a missão.
Chegando ao sertão, fizeram um acampamento em um local onde já tinham desaparecido vários bandeirantes. Ficaram então esperando os tatus atacarem.
Foi quando começaram a escultar barulho de pessoas andando na mata, um bandeirante comentou:

____Escutem todos! São eles chegando! Conheço esse barulho na mata! Eles têm faro de cachorro! Se não fugirmos agora seremos devorados!
O chefe da bandeira estava apavorado, mais queria encontrar cara a cara com os terríveis tatus.
Então o barulho foi se aproximando cada vez mais do acampamento. Os bandeirantes apavorados esperavam o ataque com garruchas nas mãos, espada e faca na cintura.
Der repente o barulho na mata acabou. Escutavam só os grilos. Então os tatus começaram a uivar como lobos. Parecia que tinha centenas deles no meio da mata. Não suportando aquele barulho infernal, os bandeirantes começaram a atirar par todos os lados.
Só que os tatus já estavam acostumados com o barulho das armas de fogo, e enfrentavam qualquer desafio para conseguir carne humana.
Acabando as munições, os bandeirantes começaram a fazer nova recarga. Então uma chuva de flechas e lanças caiu sobre o acampamento. Começou então uma gritaria de pessoas feridas, foi quando os tatus abandonaram o mato e começaram o ataque corpo a corpo. Usavam lanças de madeira e porretes. Em poucos instantes, vivos, mortos, desmaiados, todos foram arrastados para dentro da mata. Apenas um bandeirante sobreviveu. Pois parece que os tatus iam deixar um para engorda. O sobrevivente acordou em uma caverna no meio da serra depois de levar uma paulada na cabeça.
Olhou em sua volta e viu que índios o vigiavam com lanças na mão. Observou e viu que o corpo dos indígenas eram pintados com listras branca. Reparou um índio que estava do seu lado, e percebeu que se tratava de uma mulher. Foi quando os outros indígenas saíram para a mata e ele ficou sozinho com a índia o vigiando.
Os dois ficaram se olhando por um bom tempo. O bandeirante sabia que naquela instante seus amigos estavam todos mortos, e ele mesmo se tentasse uma fuga seria logo capturado, pois estava perdido na serra.
A índia olhava com compaixão o prisioneiro, seus olhos azuis facinavam-a, e a índia começou a se comover com a tristeza de sua presa. Ninguém entendia a língua do outro e der repente à índia fez um sinal para o bandeirante ir embora. Ele levantou-se, a índia sorriu para ele. Desesperado saiu correndo pela mata, ficou dias caminhando na serra até encontrar um acampamento de um outro grupo de bandeirantes que vinha do sul da região, foi onde contou o ocorrido e se formou a lenda dos tatus brancos.

ORIGEM DA VILA DE LUMINÁRIAS E SUAS LUZES MISTERIOSAS

A vila de Luminárias, antigamente denominada Nossa Senhora do Carmo de Luminárias surgiu em 1798. Esse no me Luminárias surgiu porque apareciam pontos luminosos perto da serra do navio. Essas luzes misteriosas que brilhavam a noite e às vezes perseguiam pessoas, despertou a curiosidade de muitos. A ocorrência das luzes foi tão impressionante que no local onde apareciam a serra começou a se chamada de serra de Luminárias e logo a cidade passou a ter o mesmo nome.
Essas luzes são vistas frequentemente nas cidades de Carrancas, Luminárias e São Tomé das Letras. Mas esse fenômeno estranho para muitos não passa de um simples raio esférico.
O raio esférico é um fenômeno raro de acontecer, mas em determinadas regiões aparecem com mais freqüência. Enquanto o relâmpago comum cai do céu como um dardo, ou sobe da terra, o raio esférico é como um meteoro, com uma cauda que desloca perto do chão. Em geral acompanha linhas telefônicas, de energia ou serras por alguns segundos e depois desaparece. Há ocorrências de “bolas de fogo” entrarem em casas ou andarem ao lado de automóveis. No entanto, como esse fenômeno é de pouca ocorrência e sua passagem extremamente fugaz, os cientistas só começaram a estudar o assunto em meados do século XX e ainda não encontraram sua verdadeira explicação. Mas já existem algumas características como o tamanho de 15 a 50 centímetros de diâmetro, forma esférica, alongada ou oval. Tem cores variadas como o branco alaranjado ou azul. Elas seguem trajetos retilíneos ou em ampla curvatura, flutuam a esmo acima do solo durante alguns minutos. As “bolas de fogo” tendem a ocorrer em locais de ar estacionário, como em pântanos, vales ou depressões.

ORIGEM DA VILA DE ITUMIRIM, LAVRAS, SERRANOS E ROSÁRIO.

Itumirin tem origem em uma história de amor. Goulart Brum, comerciante, apaixonou-se pela filha do bandeirante Amador Bueno, da mesma família de Armador Bueno “O Aclamado” rei do Brasil em São Paulo. Armador Bueno era um rico fazendeiro, e sua fazenda ficava onde se encontra o município de Itumirin hoje. Ele era contra o casamento da filha com um simples comerciante de bugigangas. Amador era da nobre família Bueno, de famosos bandeirantes que desbravaram o Brasil. Queria um noivo para sua filha que fosse mesma nobreza que a dela.
Irritado com a proibição do casamento, Goulart planejou uma fuga com a filha de Amador. Certa noite pegou seu cavalo e foi em direção a fazenda, burlando a vigilância dos empregados, fugiu com a moça para o arraial de Campanha. Ali se casaram e ficaram escondidos na região por alguns dias.
Goulart sabia que Amador iria mandar seus empregados para acharem os fugitivos. Com esse temor, tomou coragem e decidiu voltar com sua esposa para a fazenda do sogro e se entregar. Pois já tinha ouvido falar das ameaças do sogro.
Chegando na fazenda, todos ficaram surpresos com a coragem de Goulart. Amador quando viu ele e a sua filha teve vontade de matar ele ali mesmo. Mas olhou para sua filha e viu que ela realmente gostava de Goulart. Pensou alguns minutos sem dizer nada, e derrepente falou:
___Vou perdoar vocês dois e abençôo o casamento...
A família de Amador chegou no Sertão das Carrancas em 1720. Era uma bandeira com várias integrantes que vinha de São Paulo para explorarem o grande sertão.
Aportou primeiro nas margens do rio Grande no município de São João Del’ Rei. Faziam para dessa bandeira: Capitão Francisco Luiz Bueno da Fonseca, seus filhos, Capitão Manuel Francisco Xavier Bueno, Pascoal Leite Pais, Salvador Jorge Bueno, Capitão - Mor Diogo Bueno da Fonseca, Capitão de cavalos Pedro da Silva Miranda com alguns escravos e parentes. Deram o nome de Nossa Senhora da conceição do Rosário da cachoeira do rio Grande, e ali construíram uma capela com o mesmo nome. Possuíam muitas terras e começaram a povoar e explorar ouro na região.

Anos depois fundaram a cidade de Lavras. O primeiro nome foi Lavras do Funil e surgiu por volta de 1729 com a descoberta de ouro. Quem descobriu ouro em Lavras o bandeirante Capitão Francisco Luiz Bueno da Fonseca.
Lavras do Funil cresceu rapidamente por causa das minas de ouro. Em 1751 foi construída uma capela de dedicada a Santa Ana. O povoado em 1760 já possuía mais habitantes que o povoado de Carrancas, sede da freguesia.
Os filhos de Francisco Bueno fundaram a capela de Nossa Senhora da Conceição do Rosário dos Serranos, onde tem início a origem de Serranos.
O Capitão Mor Francisco Bueno da Fonseca de acordo com o livro de óbito nº. 1 de Lavras (do arquivo público), morreu em 1752 com mais de 80 anos de idade.

ORIGEM DA VILA DE SÃO VICENTE DE MINAS

Em São Vicente de Minas a história da origem da cidade está ligada à descoberta de uma imagem.
Francisco José de Andrade e Mello tinha uma fazenda na região. A fazenda era muito grande, com terras muito boas para o plantio e criação de gado. Como era rico possuía alguns escravos.
Um dia a fazenda ficou sem água, uma represa arrebentou e foi preciso ir até a nascente para fazer um rego de água para chegar novamente água na fazenda. Francisco saiu com alguns escravos. Chegando na mata, que era muito fechada, Francisco ordenou que um escravo fosse abrindo uma trilha até chegar na nascente. Partiu o escravo com uma foice na mão. Depois de algumas horas de serviço, volta o escravo de dentro da mata com uma imagem de São Vicente Ferrer. Falou para Francisco que tinha encontrada a imagem junto da nascente de água.

Francisco ficou tão impressionado com a descoberta da imagem, que mandou construir uma capela no local e logo se formou um povoado em torno da capela. Do povoado tornou-se vila, e esta recebeu o nome de São Vicente de Minas, local de encontro de tropeiros e viajantes.